quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Do Nilo para o Mundo, Maria


Maria é num nome antigo e intemporal, altamente relacionado com a religião e usado por gerações sucessivas de mães e filhas; é, aliás, o nome mais registado em Portugal, mesmo quando se incluem os nomes masculinos na contagem.

Para se chegar à forma gráfica oficial em Portugal, o nome teve de passar por várias etapas durante uma miríade de séculos. A origem exacta é ainda discutível, o que só torna as coisas mais interessantes, mas é geralmente aceite que na base está o hebraico Myriam, do qual também deriva a variante Míriam. O seu significado em hebraico é incerto, havendo teorias que defendem significados como, entre outros, "a desejada", "vidente", "senhora soberana", "rebelia" e, o não tão aprazível, "mar de amargura". Contudo, há ainda quem defenda uma origem egípcia, derivando ou de mry, "amada", ou de mr, "amor". Do hebreu chegamos ao aramaico Maryam. Posteriormente, surgiram as versões gregas Mariam e Maria, tendo depois esta última forma sido adoptada pelo latim, chegando depois ao português. 

Como nome de várias personalidades presentes na Bíblia, foi um nome que se tornou popular numa Europa cristã da Alta Idade Média. Segundo o livro Êxodo, havia uma Maria irmã de Moisés e de Aarão, filha de Anrão e Joquebede. É responsável por ter colocado o seu irmão Moisés numa cesta que lançou ao rio Nilo, de forma a escapulir à ordem do Faraó para que todos os recém-nascidos hebreus fossem assassinados. Mais tarde, assiste à descoberta da cesta pela filha do Faraó, que toma Moisés como seu; Maria sugere-lhe que Joquebede o crie, ao que a princesa concedeu, desconhecendo que esta era a própria mãe da criança.
Achou-se na borda do Nilo, quando a Princeza Thermutis, filha de Faraó, mandando extrahir das aguas a Moisés ella se offereceo para ir buscar huma mulher que o criasse; introduzindo para este effeito, sem a Princeza o saber a sua propria Mãi Jocabed.
Outra Maria, e sem dúvida a mais relevante no plano cristão, foi Maria, mãe de Jesus (imagem). De acordo com a Bíblia, recebeu do arcanjo Gabriel a notícia de que receberia no seu ventre o filho de Deus, por graça do Espírito Santo. Por conseguinte, o nome Maria foi, e em certa medida continua a ser, acompanhado de invocações a nossa senhora. No livro Invocações de Nossa Senhora em Portugal, do Padre Jacinto dos Reis, são enumeradas centenas dessas invocações, de entre as quais Belém, Carmo, Céu, Fátima, Graça, Nazaré, Rosário e, ainda, Lourdes, como se chamava a única primeira-ministra portuguesa até agora, Maria de Lourdes Pintasilgo, governante de 1 de Agosto de 1979 a 3 de Janeiro de 1980. Ainda assim, em determinadas épocas e culturas, o nome Maria foi considerado como demasiado sagrado para ser usado no dia-a-dia por alguém. A adoração à mãe de Jesus tem uma relevância enorme no mundo católico, incluindo Portugal, onde se localiza o enorme Santuário de Nossa Senhora de Fátima, construído em homenagem à sua suposta aparição a três crianças pastoras, Lúcia, Jacinta e Francisco.

Ainda na temática cristã, destaque para Maria Madalena, considerada a segunda mulher mais importante do Novo Testamento, após Maria mãe de Jesus. Maria Madalena viajou com Jesus e com os apóstolos e assistiu à crucificação e ressurreição. Mencionada nas escrituras mais vezes que certos apóstolos, é considerada santa pela Igreja Católica e por várias igrejas protestantes. Ainda assim, durante séculos o seu papel na vida de Jesus foi alvo de especulação, tendo sido considerada, entre várias coisas, prostituta, mulher, amante secreta e até, veja-se lá, a própria mãe de Jesus. Este mistério alimentado ao longo dos tempos foi aproveitado pelo romancista Dan Brown, no seu best-seller O Código da Vinci, onde se explora a possibilidade desta personalidade ter sido a mulher de Jesus, tendo essa informação sido preservada por uma sociedade secreta onde se incluía Leonardo da Vinci, o qual teria deixado uma pista na sua obra A Última Ceia, onde um dos apóstolos representados ao lado do Messias seria, na realidade, uma mulher.

Foi ainda um nome utilizado pela realeza europeia, incluindo duas rainhas portuguesas: D. Maria Francisca (D. Maria I) e D. Maria da Glória (D. Maria II), ambas da dinastia de Bragança, tendo a primeira nascido em Lisboa e falecido no Rio de Janeiro, e o inverso acontecido à segunda. Na altura a capital havia sido transferida de Lisboa para o Rio de Janeiro, aquando das invasões napoleónicas, formando-se o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o que pôs término ao estatuto de colónia do Brasil, em 1815, acabando este por se tornar independente, em 1822.

Maria adivinha-se um nome eternamente popular ou, pelo menos, intemporal, quer em Portugal, quer no resto do mundo lusófono. Também as suas versões e variantes noutras línguas são amplamente usadas, o que torna este nome nalgo verdadeiramente universal. Embora o seu significado não esteja determinado com toda a certeza, a sua antiguidade e relevância é algo de orgulhar qualquer um.

O nome Maria é acompanhado muitas vezes de invocações de Nossa Senhora, que frequentemente o suplantam: por exemplo, Conceição ou Prazeres em vez de Maria da Conceição ou Maria dos Prazeres. Isto deve-se à santidade atribuída ao nome de Maria desde o início. O livro do Padre Jacinto dos Reis, Invocações de Nossa Senhora em Portugal , enumera várias centenas de invocações, das quais as seguintes são as mais usadas como antropónimos: Anjos, Anunciação, Anunciada, Belém, Bom Sucesso, Caridade, Carmo, Céu, Circuncisão, Conceição, Desterro, Dores, Encarnação, Esperança, Fátima, Graça, Guadalupe, La Sallette, Lourdes, Luz, Mercês, Natividade, Nazaré, Neves, Patrocínio, Piedade, Pranto, Prazeres, Purificação, Remédios, Rosário, Saudade e Saúde. ¨ Santa Maria Goretti (1890-1902), mártir.

maria In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-09-19].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/antroponimia/maria>.
O nome Maria é acompanhado muitas vezes de invocações de Nossa Senhora, que frequentemente o suplantam: por exemplo, Conceição ou Prazeres em vez de Maria da Conceição ou Maria dos Prazeres. Isto deve-se à santidade atribuída ao nome de Maria desde o início. O livro do Padre Jacinto dos Reis, Invocações de Nossa Senhora em Portugal , enumera várias centenas de invocações, das quais as seguintes são as mais usadas como antropónimos: Anjos, Anunciação, Anunciada, Belém, Bom Sucesso, Caridade, Carmo, Céu, Circuncisão, Conceição, Desterro, Dores, Encarnação, Esperança, Fátima, Graça, Guadalupe, La Sallette, Lourdes, Luz, Mercês, Natividade, Nazaré, Neves, Patrocínio, Piedade, Pranto, Prazeres, Purificação, Remédios, Rosário, Saudade e Saúde.

maria In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-09-19].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/antroponimia/maria>.
O nome Maria é acompanhado muitas vezes de invocações de Nossa Senhora, que frequentemente o suplantam: por exemplo, Conceição ou Prazeres em vez de Maria da Conceição ou Maria dos Prazeres. Isto deve-se à santidade atribuída ao nome de Maria desde o início. O livro do Padre Jacinto dos Reis, Invocações de Nossa Senhora em Portugal , enumera várias centenas de invocações, das quais as seguintes são as mais usadas como antropónimos: Anjos, Anunciação, Anunciada, Belém, Bom Sucesso, Caridade, Carmo, Céu, Circuncisão, Conceição, Desterro, Dores, Encarnação, Esperança, Fátima, Graça, Guadalupe, La Sallette, Lourdes, Luz, Mercês, Natividade, Nazaré, Neves, Patrocínio, Piedade, Pranto, Prazeres, Purificação, Remédios, Rosário, Saudade e Saúde.

maria In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-09-19].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/antroponimia/maria>.
O nome Maria é acompanhado muitas vezes de invocações de Nossa Senhora, que frequentemente o suplantam: por exemplo, Conceição ou Prazeres em vez de Maria da Conceição ou Maria dos Prazeres. Isto deve-se à santidade atribuída ao nome de Maria desde o início. O livro do Padre Jacinto dos Reis, Invocações de Nossa Senhora em Portugal , enumera várias centenas de invocações, das quais as seguintes são as mais usadas como antropónimos: Anjos, Anunciação, Anunciada, Belém, Bom Sucesso, Caridade, Carmo, Céu, Circuncisão, Conceição, Desterro, Dores, Encarnação, Esperança, Fátima, Graça, Guadalupe, La Sallette, Lourdes, Luz, Mercês, Natividade, Nazaré, Neves, Patrocínio, Piedade, Pranto, Prazeres, Purificação, Remédios, Rosário, Saudade e Saúde.

maria In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-09-19].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/antroponimia/maria>.

sábado, 21 de setembro de 2013

Sampaio, o transmontano


Sampaio, assim como as suas variantes Sampayo, São Payo, São Paio e Sam Payo, é um sobrenome que se insere na categoria dos nomes toponímicos; quer isto dizer que Sampaio deriva do nome de uma localidade, concretamente, a honra de Sampaio, junto a Vila Flor, em Trás-os-Montes. Por sua vez, essa honra assim se denomina em homenagem a São Paio, sendo Sampaio a aglutinação dessas duas palavras. Paio é um nome derivado do latim Pelagius que, em seu turno, foi adaptado do grego Pelagios e que derivou de pelagos, "o mar". Assim, a Paio é comummente atribuído o significado "marinho". Pelágio constitui uma variante do nome, sendo célebre pela associação a Pelágio das Astúrias, o fundador e primeiro monarca do Reino das Astúrias, reinando de 718 a 737, iniciando aquela que foi a resistência à expansão moura na Península Ibérica e que levou ao processo da Reconquista cristã. Pelayo também surge como variante:
Payo, ou Pelayo, este segundo em Portuguez he pouco usado, mas quando se nomea o Rey, restaurador de Hespanha, se diz D. Pelayo. O Santo costuma nomearse São Payo, que he o titulo de muitas Igrejas nas Provincias, e alguns lugares, de que hum he solar da nobre familia de San-Payo
O primeiro registo desta família remete-nos para o reinado de D. João I e o seu vassalo, Vasco Pires de São Payo. Para além de senhor da honra de São Payo, fora também senhor das vilas de Chacim, Mós, Ansiães, Vilarinho da Castanheira, Vilas Boas, Parada do Pinhão e Quintela de Lampaças, tendo sido, ainda, alcaide-mor da Torre de Moncorvo. Serviu D. João contra Castela e é dado como tendo casado com D. Maria Pereira, de cuja união nasceram Fernão, Lopo, Mécia, Genebra e Maria Lourenço. 

Em Portugal, em tempos recentes, Sampaio ganhou notoriedade devido a Jorge Fernando Branco de Sampaio (imagem), 18.º presidente da República Portuguesa e terceiro presidente eleito da III República, de 9 de Março de 1996 a 9 de Março de 2006. Na cena política internacional, Jorge Sampaio foi uma figura relevante na tomada de consciência relativamente à questão da independência de Timor-Leste e ocupação desse território pela Indonésia.

Brasão de Armas:

Escudo esquartelado, sendo os primeiro e quarto de ouro, uma águia estendida de púrpura, lampassada de vermelho, e os segundo e terceiro xadrezado de ouro e negro; bordadura de vermelho, carregada de oito SS de prata. Timbre: a águia do escudo, carregada de um desses SS no peito.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Filipe, Filipa e os cavalos imperiais



Filipe - e, por extensão, o seu feminino, Filipa - tem origem helénica e etimologia clara. Phílippos, de onde deriva, é uma palavra composta pelos elementos φιλος (philos), que significa "amigo" ou "amante", e ‘ιππος (hippos), "cavalo". Estes dois étimos gregos existem também em várias palavras portuguesas, como "filosofia", "hipismo" e "hipódromo". Desta feita, o significado de Filipe e Filipa é "amigo(a) dos cavalos" ou "amador(a) de cavalos". Rafael Bluteau, no século XVIII, atribui-lhe também os significados "cavaleiro" e "belicoso". Ainda na Grécia Antiga, fora nome de importantes personalidades tais como cinco réis da Macedónia, de entre os quais Filipe II, pai de Alexandre o Grande. 

Filipe II fundou, também na Macedónia, a cidade de Filipos. Esta tornou-se célebre por ser a primeira cidade europeia a ouvir a pregação de missionários cristãos, bem como o local onde São Paulo fez consideráveis conversões. Porém, foi aí mesmo que a população o prendeu e quase o condenou a açoites, não tivesse este lhes avisado que era cidadão romano. Aparentemente, e segundo o Thesouro biblico, ou Diccionario historico e etymologico, um habitante ficara indignado por São Paulo ter livrado a sua criada do poder do Demónio, "por cujo meio ganhava muito dinheiro", desencadeando todo o alarido. Mais tarde, o apóstolo escreve à cidade elogiando a fé dos seus habitantes em Jesus Cristo, no que hoje se conhece como a Epístola de São Paulo aos Filipenses.

Um dos doze apóstolos de Jesus Cristo também se chamava Filipe. A este se atribuem vários milagres mas, ao que tudo indica, acabou por morrer de forma agoniante, crucificado e depois apedrejado.
Entrou hum dia em hum Templo, onde vio adorar o Povo uma vibora monstruosa. Poz-se em oração, e o animal cahio morto. Lançárão-se os Judeos sobre elle e o crucificárão.
Em 2011, uma agência noticiosa turca anunciou que um grupo de arqueólogos havia descoberto o túmulo de São Filipe o Apóstolo, nas ruínas de Hierápolis. 

Este nome, que tinha, inicialmente, maior uso entre os cristãos do Oriente, surgiu no Ocidente na Idade Média. Aí se tornou popular, sendo usado por seis réis franceses e cinco réis espanhóis, para além de ser o nome de vários santos, nomeadamente, São Filipe Benício, São Filipe de Jesus e, talvez o mais ilustre, São Filipe de Néri. O último, de personalidade alegre e brincalhona, ficou célebre como o "Santo da Alegria" devido à sua conhecida frase: "Longe de mim o pecado e a tristeza!" 

Aqui entre nós, neste canto da Ibéria, Filipe é em grande parte associado à dinastia Filipina, durante a qual três dos cinco monarcas espanhóis anteriormente referidos (Filipe II - imagem -, Filipe III e Filipe IV) governaram Portugal de 1580 a 1640, como resultado de toda uma crise dinástica desencadeada pela morte do jovem D. Sebastião, na Batalha de Alcácer Quibir. Durante esses anos de União Ibérica, os inimigos de Espanha tornaram-se inimigos também de Portugal, o que levou a vários ataques às pequenas e dispersas colónias portuguesas, enfraquecendo o império e fomentando a queda da relevância internacional da nação. Após a restauração da independência, Ceuta, que fora a primeira conquista portuguesa, em 1415, permaneceu sob o controlo do Reino de Espanha, situação que se verifica até aos dias de hoje, ainda que na sua bandeira se encontre o escudo português. A má fama da dinastia Filipina também chegou a terras de sua majestade, tanto que Philip, um nome popular na Inglaterra medieval, caiu em desuso, crendo-se que devido à tentativa de invasão da Inglaterra por Filipe II de Espanha. Foi também em homenagem a este rei que surgiu o topónimo "Filipinas", hoje o grande núcleo do Cristianismo asiático e que significa "ilhas de Filipe".

Quanto ao feminino, destaque para D. Filipa de Lencastre (1360-1415), princesa inglesa e rainha-consorte de D. João I de Portugal. É responsável por dar à luz a "Ínclita Geração" de Portugal, aquela que se lançou na epopeia dos Descobrimentos e na qual se inclui D. Henrique, o Infante Navegador. Todavia, D. Filipa morre de peste bubónica poucos dias antes da expedição para Ceuta, não presenciando aquele que foi o momento que deu início ao Império Português, o primeiro e o mais duradouro dos impérios coloniais europeus.

Regressando novamente ao contexto da restauração da independência, destaque também para outra ilustre personalidade, D. Filipa de Vilhena, símbolo do patriotismo lusitano contra o domínio espanhol. Pelas suas próprias mãos, cingiu as armas a seus filhos na madrugada do 1.º de Dezembro, dizendo-lhes que não voltassem se não honrados com os louros. A sua história foi, posteriormente, adaptada por Almeida Garrett numa peça homónima, contribuindo para a sua glorificação.

No que toca a variantes gráficas usadas ao longo dos tempos, para além de Filipe e Filipa, contam-se Filippe, Philippe, Filippo, Filipo, Felipe, Felippe e Phelippe (e equivalentes para o feminino). Hoje, em Portugal, só Filipe, Filipo e Filipa são admitidos como nomes passíveis de serem registados, pelo que só estas três grafias têm carácter oficial. Felipe é, aliás, listado como não admitido (as outras grafias não constam no documento). Ao que tudo indica, as variantes com ee eram comuns durante vários séculos, mas hoje o seu uso é quase só limitado ao Brasil, onde a inexistência de uma lista oficial de nomes permite que esta variante seja até mais registada que a versão oficial em Portugal, com ii. Também no Brasil surgem variantes como Fellipe que, apesar de criativa, carece de fundamentação etimológica. Segundo dados oficiais divulgados no blogue Nomes e mais nomes, em 2012 Filipe teve 287 registos e, Filipa, 237. Houve ainda 10 registos de Felipe e um de Philippe, apesar de não serem grafias oficiais.
Phílippos

filipe In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-09-15].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/antroponimia/filipe>.

domingo, 15 de setembro de 2013

Fundamentos Básicos de Heráldica

A Heráldica define-se como a ciência da descrição de brasões de armas ou escudos. Como este blogue analisará, para além de prenomes, apelidos de família (sobrenomes, para quem nos siga do Brasil) e, tendo em conta que uma parte dessa análise incidirá, sempre que possível, nos tradicionais brasões de família, é de todo pertinente esta pequena exposição.

A primeira coisa que é descrita num escudo é o esmalte (cor) do campo (fundo); seguem-se a posição e esmaltes das diferentes figuras (objectos) existentes no escudo. A descrição é realizada de cima para baixo, e da direita (dextra) para a esquerda (sinistra). Na verdade, a dextra (do latim dextra, -æ, "direita") refere-se ao lado esquerdo do escudo, e a sinistra (do latim sinistra, -æ, "esquerda") ao lado direito, tal como este é visto pelo observador. A razão porque isto sucede prende-se com o facto de a descrição se referir ao ponto de vista do portador do escudo, e não do seu observador.

Sistematizando, alguns dos componentes que um brasão de armas poderá ter são, então, os seguintes:
  • Escudo;
  • Elmo;
  • Timbre;
  • Coroa ou Coronéis;
  • Manto ou Paquife;
  • Virol;
  • Bandeiras;
  • Suportes ou Tenentes;
  • Condecoração;
  • Mote, Divisa ou Lema;
  • Grito de Guerra.
Exemplificando:



Além disso, o escudo, especificamente, pode apresentar conformações diversas (partições), sendo as mais comuns as seguintes:
  1. Cortado (dividido na horizontal);
  2. Partido (dividido na vertical);
  3. Fendido (dividido diagonalmente a partir do canto direito);
  4. Talhado (dividido diagonalmente a partir do canto esquerdo);
  5. Franchado (fendido e talhado);
  6. Esquartelado (cortado e partido);
  7. em Asna (dividido por um "V" invertido);
  8. Terciado (dividido em três partes):
    • Em pala (três partes verticais);
    • Em faixa (três partes horizontais);
    • Em banda (três partes, a do meio diagonal a partir do canto esquerdo);
    • Em barra (três partes, a do meio diagonal a partir do canto direito);
    • Em mantel (como duas cortinas que se abrem da parte superior central da partição).

Fica então aqui registado, muito sumariamente, o essencial para que possa compreender as descrições dos brasões de família. A Heráldica é uma ciência ainda vasta, mas ficamo-nos por aqui.

Teresa e a incerteza


Teresa, um dos nomes de uso mais antigo na Península Ibérica, é um antropónimo de origem e significado incerto. O primeiro registo notório remonta ao século V da Era Comum, referindo-se à mulher espanhola e cristã de São Paulino de Nola, a qual se denominava pela forma gráfica Therasia. São Paulino, nascido Pontius Meropius Anicius Paulinus na Gália romana (hoje, França) era, na verdade, poeta e político. Enquanto governador da província romana de Campânia, conheceu e casou-se com Therasia, acabando por se converter ao Cristianismo. O casal mudou-se para Espanha e teve um filho. Porém, este morre oito dias após o nascimento, levando o casal a tomar a decisão de viver uma vida isolada, religiosa e filantrópica.

A incerteza da etimologia surge quando se analisa Therasia. Aparentemente, chegou ao latim pelo grego, mas a partir daí fica tudo algo nublado. Há, no entanto, três teorias principais: a primeira defende que Therasia chega-nos do grego therós, que significa "Verão"; a segunda propõe que vem de therízo que, em grego, significa "colheita"; já a última, e talvez a com mais adeptos, defende que Therasia é nada mais que uma variação do topónimo Therasía ou Thirasía, ilha do grupo vulcânico de Santorini, a Oeste desta última. Por sinal, Santorini também é conhecida por Thera e Thira, pelo que alguns admitem que Teresa signifique "a que habita em Tera", sendo que, por sua vez, Tera significa "animal selvagem". Portanto, Verão, colheita, ilha grega e animal selvagem - uma multiplicidade de potenciais significados.

Mais tarde, Therasia terá dado génese ao latim tardio Theresia, de onde terá surgido, ultimamente, Theresa/Teresa. Durante a Idade Média, o nome era mais usado em Portugal e Espanha, tendo também sido usado sob as formas galaico-portuguesas Tarasia e Tareja, como era conhecida, por exemplo, a mãe de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal e contra o qual lutou e perdeu, cedendo-lhe a regência do Condado Portucalense (ver Batalha de São Mamede). Foi no século XVI, graças à popularidade da freira carmelita espanhola Santa Teresa de Ávila, que o nome se espalhou pelo mundo cristão.

O Supplemento ao Vocabulario Portuguez e Latino, de Rafael Bluteau, datado de 1728, lista a forma Tereza (hoje mais comum no Brasil) na secção de nomes de mulheres mais usados e continua com a seguinte afirmação curiosa:
Tereza, que alguns escrevem menos propriamente Tareza, quando este nome com a devoçaõ da santa mudou, como era Latim de Tarasia a Teresia, antigamente se dizia Tareja, e dura o Adagio. Minha filha Tareja quando vê, tanto deseja. O nome de Tirezia foy celebre nas fabulas dos Gregos. O diminutivo he Teresinha, Teresia, etc.
Tempos depois, foi popularizado por Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897) e, nos tempos mais recentes, o nome chegou aos tablóides devido a outra religiosa, desta vez a albanesa Madre Teresa de Calcutá (nascida Anjezë Gonxhe Bojaxhiu; imagem). Esta famosa personalidade fundou as Missionárias da Caridade e foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz no ano de 1979. Foi beatificada em 2003, estando perto da santificação, bastando para isso que a Igreja Católica reconheça um segundo milagre a ela atribuído.

Segundo dados adquiridos pela autora do blogue Nomes e mais nomes, em 2012 foram registadas em Portugal 155 bebés com o nome Teresa e duas com a variante Theresa. Porém, é possível que estes dois últimos casos sejam de casais onde pelo menos um dos membros possua outra nacionalidade que não a portuguesa, uma vez que a Lista de nomes permitidos e proibidos em Portugal pelo Registo Civil, elaborada por um especialista e que constitui o catálogo onomástico oficial do país, tendo poder de decreto-lei, deixa expresso que Theresa é uma forma gráfica proibida para registo de uma criança (sendo que, no entanto, não se trata de uma lista imutável, pois determinações futuras, nomeadamente uma reflexão sobre uma reclamação, poderão alterá-la). Apesar de Teresa não figurar, subentende-se que é admitido. São ainda listados como aceites os nomes Teresinha, Teresina e Terezinha, ao passo que, estranhamente, Terezina é proibido. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, auto-intitulado "a Bíblia do português", também lista as quatro formas oficiais.

Independentemente do significado, Teresa e as suas variantes estão ligadas a quatro mulheres que tinham em comum a religião e uma atitude benevolente e de ajuda ao próximo. Uma forte inspiração para todas as Teresas do mundo, a meu ver.


sábado, 14 de setembro de 2013

Sobre o blogue

Nota prévia: Para pedidos e sugestões, deixe um comentário nesta publicação. Como alternativa, poderá enviar um e-mail para onomasticaportuguesa@gmail.com, embora não garanta uma resposta rápida por esta última via.

Muito bom dia, boa tarde ou boa noite. Hoje, 14 de Setembro de 2013, tem por início este blogue dedicado à Onomástica Portuguesa.

O que é a Onomástica? - perguntam alguns. Onomástica vem do grego ὀνομαστική e significa "acto de nomear"; "de dar nome". Assim, a Onomástica é o estudo dos nomes próprios de todos os géneros, das suas origens e dos processos de denominação. As duas grandes áreas desta repartição da Linguística são a Toponímia e a Antroponímia. Este blogue dedicar-se-á à Antroponímia, o estudo dos nomes próprios de pessoas, sejam eles prenomes ou apelidos de família, por oposição à Toponímia, o estudo dos nomes de lugares.

Assim, este local não procurará ser mais uma lista de significados de nomes e tampouco um lugar exclusivamente dedicado a ajudar mães a escolher o nome dos filhos. Não que tenha algo contra, aliás, recomendo imenso o blogue Nomes e mais nomes e possivelmente recorrerei a alguns dados estatísticos que o mesmo oferece, mas este blogue procurará ir ao cerne de cada nome, desvendando a sua etimologia e uso, sempre numa perspectiva histórica e recorrendo aos mais diversos meios disponíveis. Não obstante, futuras mães, jovens adultos, adolescentes, quarentões, reformados... Está tudo convidado!