domingo, 20 de outubro de 2013

Comunicado

O Onomástica Portuguesa encontrar-se-á inactivo por uns tempos, voltando em força nos primeiros dias de Novembro. Sempre que tal situação aconteça, serão feitos esforços no sentido de se avisar os leitores atempadamente. 

Entretanto, em jeito de balanço do início deste blogue, gostaria que quem por aqui, eventualmente, passasse, respondesse à sondagem que coloquei. Acha os textos muito longos ou de boa medida? Preferia que fossem um pouco mais curtos para se sentir mais tentado a ler? A intenção deste blogue será duas: criar uma base de leitores assíduos mas também textos completos para quem aqui venha só pesquisar determinados nomes tenha informação o mais completa possível. Bem sei que textos longos muitas vezes afastam-nos da leitura, mas este blogue terá de tentar encontrar o equilíbrio entre ambos os casos.

Bom resto de Outubro. Vemo-nos antes do São Martinho. :-)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Magalhães, o apelido das estrelas


Magalhães, ou Magalhaens, é um sobrenome toponímico, isto é, que tem origem no nome de um local, cujo uso remonta ao séc. XIII. Deriva do nome de uma torre em São Martinho do Paço Vedro, hoje freguesia de Paço Vedro de Magalhães, concelho de Ponte da Barca, região tradicional do Minho, no norte de Portugal. 

Existem várias abordagens quanto à genealogia da primeira família a usar o nome. Uma propõe Rui Fernandes de Magalhães como o tronco mais antigo da linhagem, senhor da honra da quintã da Torre de S. Martinho de Magalhães e do couto de Fontarcada, na Póvoa de Lanhoso. Outros adiantam Afonso Rodrigues de Magalhães como o utilizador mais antigo do nome, o qual poderá ter sido, eventualmente, filho de Rui. Era raçoeiro do Mosteiro de Tibães e do seu casamento com D. Alda Martins de Castelões terá dado descendência que deu continuidade ao apelido de família. Entre os Magalhães contam-se ainda personalidades importantes, pelo menos em título, de entre as quais gerações de barões, condes, senhores, viscondes e viscondessas, para além de governadores de ex-colónias ultramarinas, ministros, militares e cavaleiros das ordens de Cristo, de Malta e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Ufa, pausa para respirar; são realmente muitos títulos, o que evidencia a importância deste apelido.

A figura mundial mais proeminente que usou este nome foi, sem sombra de dúvida, o navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521). Nascido no seio de uma família pobre, na vila de Sabrosa, Trás-os-Montes, o seu espírito de aventura e de explorador nato levou-o, algo literalmente, às estrelas. Ao serviço da coroa espanhola, organizou a primeira viagem de circum-navegação do planeta, algo de magnitude gigantesca para o tempo, como que a viagem à Lua da altura. Foi ainda o primeiro a cruzar o Oceano Pacífico, o qual nomeou e no qual entrou por um estreito na Terra do Fogo, no extremo sul do continente americano, estreito esse que hoje tem o seu nome. Infortunadamente, pereceu numa batalha nas Filipinas aquando da grande volta ao mundo, mas o seu nome perdura em grande apreço como o nome de duas galáxias-satélites da nossa, a Pequena e a Grande Nuvem de Magalhães (imagem). Ambas podem ser vistas a olho nu no hemisfério sul, entre o equador e o Pólo Sul, tal como Fernão de Magalhães o fez. Ter galáxias em nosso nome (ou, pelo menos, com o nosso nome), esses conjuntos de milhares de milhões de estrelas e de infinitos mistérios, não é, realmente, para todos.

Brasão de Armas:

De prata, três faixas xadrezadas de vermelho e prata, de três tiras. Timbre: um abutre de sua cor, estendido e armado de ouro. Outros Magalhães usam um escudo esquartelado, sendo os primeiro e quarto de prata, uma árvore arrancada de verde, e os segundo e terceiro de azul, uma cruz de ouro florenciada e vazia. Timbre: a árvore do escudo.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Dinis: uma análise com vinho à mistura


No início, havia um deus. Grego, mais especificamente, e de nome Dionísio ou Dioniso (imagem); originalmente, Dionysos. Crê-se que tal nome terá surgido da combinação de dois elementos, Dios e Nysa. O primeiro sempre esteve relacionado com Zeus (Júpiter, para os romanos), pai dos deuses e do Homem, soberano do Olimpo e progenitor de vários heróis. Este étimo surge como o caso genitivo de Zeus, algo que não existe propriamente na gramática portuguesa mas que existe em línguas como o finlandês, o alemão e o turco. Nysa, por sua vez, refere-se a uma montanha lendária, de localização dúbia mas associada a sítios tais como a Etiópia, a Líbia, a Arábia e a Índia. Segundo o mito, nesse local terá nascido Dionísio, o "Zeus de Nisa", o qual terá sido criado pelas Nisíades, que poderão equivaler às Híades, as ninfas da chuva. De acordo com Ferécides de Siro, nűsa seria uma palavra arcaica para "árvore", o que poderá explicar o porquê do culto de Dionísio estar muito relacionado com árvores, especialmente a figueira. Uma outra possível origem é apresentada por Rafael Bluteau:
Outros pretendem derivar Dionysio de Du, ou Dy, que significa senhor na lingua indiana. 
Dionísio cresceu para se tornar o deus do vinho, da vindima e da produção de vinho, bem como das festas, da epifania e do êxtase. Apesar de filho de Zeus, foi o único dos doze deuses do Olimpo com mãe mortal. Porém, existe outra versão que o coloca como filho de Zeus e Perséfone, filha de Deméter e comummente referida como "a deusa virgem". As datas de 25 de Dezembro e 6 de Janeiro estão associadas ao nascimento do deus, representando este período o solstício de Inverno. Para além disso, Dionísio é relatado como tendo praticado diversos milagres, como a transformação de água em vinho, ter sido aclamado pelos epítetos "Salvador" e "Filho Unigénito", bem como ter morrido e ressuscitado três dias depois, tendo posteriormente ascendido aos céus. Como seria de esperar, tal levou às mais diversas teorias comparativas com a figura central do Cristianismo. Baco constituía o seu equivalente no panteão romano, sendo famosas as bacanais, rituais em sua homenagem, originalmente restritos a mulheres mas mais tarde estendidos a homens, sendo a intoxicação por álcool um dos elementos dessa comemoração.

Em latim surgiu a versão Dionysus, de onde se formou o francês medieval Denys ou Denis, tendo depois sido importado para Inglaterra pelos normandos, onde hoje é mais usual a grafia Dennis. São Denis foi um missionário gaulês do século 3.º que converteu os gauleses ao Cristianismo, sendo hoje considerado o santo patrono de França. Denis foi ainda uma forma também comum em Portugal, assim como a variante mais recente, Dinis, e que também é usada como apelido de família. Hoje, ambas as formas gráficas constam como aceites pela onomástica portuguesa, como se pode verificar no catálogo oficial de nomes próprios do Registo Civil, assim como o feminino, Denise e, ainda, Denisa, Dione e Dionísia. Em tempos, em Portugal, também se popularizou a versão Diniz que, presentemente, à semelhança de Luiz, não constitui uma grafia oficial. Considerações adicionais sobre a terminação em -iz serão efectuadas quando se abordar Luís. 

Não se pode abordar Dinis em Portugal - e até no mundo lusófono em geral - sem se mencionar D. Dinis, sexto rei de Portugal. Pelo tratado de Alcanizes, definiu as fronteiras do país após a Reconquista, tendo ainda, entre outras coisas, criado a primeira universidade portuguesa, mais tarde transferida de Lisboa para Coimbra, e instaurado a língua portuguesa como língua oficial da corte. Foi conhecido como o Lavrador, principalmente pela sua responsabilidade na expansão do Pinhal de Leiria e, ainda, o Rei-Poeta, devido à sua obra literária, existindo cerca de 138 cantigas de sua autoria. 

Amiga, quem vos (ama)
(e por vós) é coitado
e se por vosso chama
des que foi namorado,
nom viu prazer, sei-o eu,
(e) por em já morrerá
e por aquesto m'é greu.

Aquel que coita forte
houve des aquel dia
que vos el viu, que morte
lh'é, par Santa Maria,
nunca viu prazer, nem bem,
(e) por em já morrerá
(e) a mim pesa muit'em.

Os meus sinceros parabéns a quem conseguiu perceber o poema todo.