sábado, 23 de novembro de 2013

Sebastião, flechas e nevoeiro


Sebastião (feminino: Sebastiana) é um nome antigo que deriva do latim Sebastianus, o qual, por sua vez, tem origem no grego Sebastianos. Significa "homem de Sebaste" ou simplesmente "de Sebaste", uma cidade em Pontus, Ásia Menor, hoje na região costeira turca do Mar Negro. Foi nomeada em honra de César Augusto, primeiro imperador romano, sendo por isso também conhecida pela tradução latina Augusta. Ora, sebastos, por sua vez, significa "venerável", por isso torna-se fácil compreender o porquê de Augusto se ter tornado um título muito usado por imperadores.

Na Idade Média popularizou-se em países como Espanha e França devido a S. Sebastião (imagem), um soldado romano do século 3.º que fora martirizado por flechas após se ter descoberto que era cristão, no seguimento da verdadeira "caça ao cristianismo" do tempo do imperador Diocleciano. É hoje uma figura masculina importante, tanto na igreja católica como na ortodoxa, venerado como o santo patrono do desporto, tendo também sido um santo frequentemente invocado contra a peste.

Em Portugal, não há associação mais importante com o nome do que com o rei D. Sebastião, o Desejado (1554-1578). D. Sebastião herdou o trono de seu avô, D. João III, porque, apesar de este ter tido vários filhos, todos eles acabaram por falecer precocemente. De temperamento e humor variáveis, o jovem rei, sonhando recuperar as praças abandonadas do Magrebe, parte à frente de um exército para o que hoje é Marrocos, contra todos os conselhos que recebera. Acabou por falecer na batalha de Alcácer Quibir, fomentando o que viria a ser uma crise dinástica por falta de sucessores, pois, apesar de precedido por D. Henrique, seu tio, após a morte do mesmo seguiu-se a mais grave crise dinástica do país e que culminou no domínio espanhol da União Ibérica. O cadáver de D. Sebastião foi encontrado e reconhecido, estando sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. A crença popular não aceitou a sua morte e daí nasceu o mito do Sebastianismo, a ideia de que um dia ele voltará numa manhã de nevoeiro para salvar a nação. Uma crença que daí evoluiu e que hoje se pode dizer enraizada no imaginário português sob a forma de um acreditar de que um dia um "D. Sebastião" salvará o país e o tornará de novo relevante no plano internacional, quiçá concretizando-se o Quinto Império de Fernando Pessoa.


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

César e a traição mortal



César, um nome que invoca os dias da gloriosa era romana, não tem uma origem cem porcento determinada. Poderá derivar do latim caesus, que significa "cortado", mas também de caesaries, que significa "cabeludo" ou "cheio de pêlos". Daí terá dado origem ao cognome romano Caesar. Os típicos nomes romanos eram compostos por um prenome, um nome propriamente dito e, por fim, um cognome. Originalmente, os cognomes eram alcunhas mas, nos tempos da República e do Império Romano, passaram a ser transmitidos de pai para filho. Assim, o cognome funcionaria como um apelido que formava subgrupos dentro de famílias, como que uma divisão para além da que o nome já fazia e que também serviria de apelido. Em latim clássico, por oposição ao eclesiástico, Caesar soaria algo como /káissar/, pois todos os cc teriam valor /k/ (assim como os vv teriam valor /u/, pelo que a conhecida expressão, veni, vidi, vici, seria, na verdade, pronunciada como /uéni, uídi, uíki/).

Caesar tornou-se famoso por ser o cognome de um dos mais mediáticos líderes romanos de sempre e autor da célebre frase anteriormente referida - Júlio César (Caius Iulius Caesar, à nascença, Imperator Iulius Caesar Divus, após a morte; 100 AEC - 44 AEC). Foi responsável por uma enorme expansão da República Romana à custa de uma série de batalhas pela Europa, declarando-se, posteriormente, ditador para a vida. Morreu assassinado no senado pelas mãos de outros políticos, traição que ainda hoje deixa a sua marca através de inúmeras peças, filmes e séries que recriam o evento. Segundo a tradição, Júlio César terá necessitado de uma cirurgia para nascer, o que suporta a teoria da origem em caesus e justifica o facto de hoje chamarmos cesariana a tal procedimento.

Caesar passou a ser utilizado como título por sucessivos imperadores após Júlio César, tendo também estado na origem do título alemão Kaiser e do russo Czar. Mais tarde, surgiu como antropónimo cristão, mais concretamente pela altura do Renascimento. Em Portugal e noutros países adquiriu a forma de César, estando os nomes Cesário/Cesária e Cesarino/Cesarina relacionados. Cesária ganhou visibilidade graças àquela que foi, provavelmente, a cara de Cabo Verde no mundo; refiro-me, pois, à cantora Cesária Évora (1941-2011). 

Segundo dados obtidos pela autora do blog Nomes e mais nomes, em 2012 César foi o 90.º nome masculino mais registado em Portugal. 

Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar.
Júlio César
Já naquele tempo se sabia.
cæsus

César In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-11-06].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/antroponimia/C%C3%A9sar>.
cæsus

César In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-11-06].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/antroponimia/C%C3%A9sar>.
cæsus

César In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-11-06].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/antroponimia/C%C3%A9sar>.