domingo, 15 de setembro de 2013

Teresa e a incerteza


Teresa, um dos nomes de uso mais antigo na Península Ibérica, é um antropónimo de origem e significado incerto. O primeiro registo notório remonta ao século V da Era Comum, referindo-se à mulher espanhola e cristã de São Paulino de Nola, a qual se denominava pela forma gráfica Therasia. São Paulino, nascido Pontius Meropius Anicius Paulinus na Gália romana (hoje, França) era, na verdade, poeta e político. Enquanto governador da província romana de Campânia, conheceu e casou-se com Therasia, acabando por se converter ao Cristianismo. O casal mudou-se para Espanha e teve um filho. Porém, este morre oito dias após o nascimento, levando o casal a tomar a decisão de viver uma vida isolada, religiosa e filantrópica.

A incerteza da etimologia surge quando se analisa Therasia. Aparentemente, chegou ao latim pelo grego, mas a partir daí fica tudo algo nublado. Há, no entanto, três teorias principais: a primeira defende que Therasia chega-nos do grego therós, que significa "Verão"; a segunda propõe que vem de therízo que, em grego, significa "colheita"; já a última, e talvez a com mais adeptos, defende que Therasia é nada mais que uma variação do topónimo Therasía ou Thirasía, ilha do grupo vulcânico de Santorini, a Oeste desta última. Por sinal, Santorini também é conhecida por Thera e Thira, pelo que alguns admitem que Teresa signifique "a que habita em Tera", sendo que, por sua vez, Tera significa "animal selvagem". Portanto, Verão, colheita, ilha grega e animal selvagem - uma multiplicidade de potenciais significados.

Mais tarde, Therasia terá dado génese ao latim tardio Theresia, de onde terá surgido, ultimamente, Theresa/Teresa. Durante a Idade Média, o nome era mais usado em Portugal e Espanha, tendo também sido usado sob as formas galaico-portuguesas Tarasia e Tareja, como era conhecida, por exemplo, a mãe de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal e contra o qual lutou e perdeu, cedendo-lhe a regência do Condado Portucalense (ver Batalha de São Mamede). Foi no século XVI, graças à popularidade da freira carmelita espanhola Santa Teresa de Ávila, que o nome se espalhou pelo mundo cristão.

O Supplemento ao Vocabulario Portuguez e Latino, de Rafael Bluteau, datado de 1728, lista a forma Tereza (hoje mais comum no Brasil) na secção de nomes de mulheres mais usados e continua com a seguinte afirmação curiosa:
Tereza, que alguns escrevem menos propriamente Tareza, quando este nome com a devoçaõ da santa mudou, como era Latim de Tarasia a Teresia, antigamente se dizia Tareja, e dura o Adagio. Minha filha Tareja quando vê, tanto deseja. O nome de Tirezia foy celebre nas fabulas dos Gregos. O diminutivo he Teresinha, Teresia, etc.
Tempos depois, foi popularizado por Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897) e, nos tempos mais recentes, o nome chegou aos tablóides devido a outra religiosa, desta vez a albanesa Madre Teresa de Calcutá (nascida Anjezë Gonxhe Bojaxhiu; imagem). Esta famosa personalidade fundou as Missionárias da Caridade e foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz no ano de 1979. Foi beatificada em 2003, estando perto da santificação, bastando para isso que a Igreja Católica reconheça um segundo milagre a ela atribuído.

Segundo dados adquiridos pela autora do blogue Nomes e mais nomes, em 2012 foram registadas em Portugal 155 bebés com o nome Teresa e duas com a variante Theresa. Porém, é possível que estes dois últimos casos sejam de casais onde pelo menos um dos membros possua outra nacionalidade que não a portuguesa, uma vez que a Lista de nomes permitidos e proibidos em Portugal pelo Registo Civil, elaborada por um especialista e que constitui o catálogo onomástico oficial do país, tendo poder de decreto-lei, deixa expresso que Theresa é uma forma gráfica proibida para registo de uma criança (sendo que, no entanto, não se trata de uma lista imutável, pois determinações futuras, nomeadamente uma reflexão sobre uma reclamação, poderão alterá-la). Apesar de Teresa não figurar, subentende-se que é admitido. São ainda listados como aceites os nomes Teresinha, Teresina e Terezinha, ao passo que, estranhamente, Terezina é proibido. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, auto-intitulado "a Bíblia do português", também lista as quatro formas oficiais.

Independentemente do significado, Teresa e as suas variantes estão ligadas a quatro mulheres que tinham em comum a religião e uma atitude benevolente e de ajuda ao próximo. Uma forte inspiração para todas as Teresas do mundo, a meu ver.


3 comentários:

  1. Começa bem o seu blog, debruçando-se sobre um nome que eu, modéstia à parte, acho bem bonito...:) Não me sinto absolutamente nada identificada com significados e inspirações, mas é sempre interessante conhecer a origem do nosso próprio nome.

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  2. Parabéns pelo blog, estou a gostar muito! Texto muito bem escrito! Teresa é um belo nome, antigo, tradicional e com fortes "representantes".

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  3. Teresa, acima de tudo, acho um nome intemporal. É daqueles que não é necessariamente popular mas também não está esquecido, e foi e continuará a estar num top 100. Acho que não há tantos nomes nessa categoria. :)

    Dora, ty. :) Sem dúvida fortes representantes, quer se seja religioso quer não.

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