quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Filipe, Filipa e os cavalos imperiais



Filipe - e, por extensão, o seu feminino, Filipa - tem origem helénica e etimologia clara. Phílippos, de onde deriva, é uma palavra composta pelos elementos φιλος (philos), que significa "amigo" ou "amante", e ‘ιππος (hippos), "cavalo". Estes dois étimos gregos existem também em várias palavras portuguesas, como "filosofia", "hipismo" e "hipódromo". Desta feita, o significado de Filipe e Filipa é "amigo(a) dos cavalos" ou "amador(a) de cavalos". Rafael Bluteau, no século XVIII, atribui-lhe também os significados "cavaleiro" e "belicoso". Ainda na Grécia Antiga, fora nome de importantes personalidades tais como cinco réis da Macedónia, de entre os quais Filipe II, pai de Alexandre o Grande. 

Filipe II fundou, também na Macedónia, a cidade de Filipos. Esta tornou-se célebre por ser a primeira cidade europeia a ouvir a pregação de missionários cristãos, bem como o local onde São Paulo fez consideráveis conversões. Porém, foi aí mesmo que a população o prendeu e quase o condenou a açoites, não tivesse este lhes avisado que era cidadão romano. Aparentemente, e segundo o Thesouro biblico, ou Diccionario historico e etymologico, um habitante ficara indignado por São Paulo ter livrado a sua criada do poder do Demónio, "por cujo meio ganhava muito dinheiro", desencadeando todo o alarido. Mais tarde, o apóstolo escreve à cidade elogiando a fé dos seus habitantes em Jesus Cristo, no que hoje se conhece como a Epístola de São Paulo aos Filipenses.

Um dos doze apóstolos de Jesus Cristo também se chamava Filipe. A este se atribuem vários milagres mas, ao que tudo indica, acabou por morrer de forma agoniante, crucificado e depois apedrejado.
Entrou hum dia em hum Templo, onde vio adorar o Povo uma vibora monstruosa. Poz-se em oração, e o animal cahio morto. Lançárão-se os Judeos sobre elle e o crucificárão.
Em 2011, uma agência noticiosa turca anunciou que um grupo de arqueólogos havia descoberto o túmulo de São Filipe o Apóstolo, nas ruínas de Hierápolis. 

Este nome, que tinha, inicialmente, maior uso entre os cristãos do Oriente, surgiu no Ocidente na Idade Média. Aí se tornou popular, sendo usado por seis réis franceses e cinco réis espanhóis, para além de ser o nome de vários santos, nomeadamente, São Filipe Benício, São Filipe de Jesus e, talvez o mais ilustre, São Filipe de Néri. O último, de personalidade alegre e brincalhona, ficou célebre como o "Santo da Alegria" devido à sua conhecida frase: "Longe de mim o pecado e a tristeza!" 

Aqui entre nós, neste canto da Ibéria, Filipe é em grande parte associado à dinastia Filipina, durante a qual três dos cinco monarcas espanhóis anteriormente referidos (Filipe II - imagem -, Filipe III e Filipe IV) governaram Portugal de 1580 a 1640, como resultado de toda uma crise dinástica desencadeada pela morte do jovem D. Sebastião, na Batalha de Alcácer Quibir. Durante esses anos de União Ibérica, os inimigos de Espanha tornaram-se inimigos também de Portugal, o que levou a vários ataques às pequenas e dispersas colónias portuguesas, enfraquecendo o império e fomentando a queda da relevância internacional da nação. Após a restauração da independência, Ceuta, que fora a primeira conquista portuguesa, em 1415, permaneceu sob o controlo do Reino de Espanha, situação que se verifica até aos dias de hoje, ainda que na sua bandeira se encontre o escudo português. A má fama da dinastia Filipina também chegou a terras de sua majestade, tanto que Philip, um nome popular na Inglaterra medieval, caiu em desuso, crendo-se que devido à tentativa de invasão da Inglaterra por Filipe II de Espanha. Foi também em homenagem a este rei que surgiu o topónimo "Filipinas", hoje o grande núcleo do Cristianismo asiático e que significa "ilhas de Filipe".

Quanto ao feminino, destaque para D. Filipa de Lencastre (1360-1415), princesa inglesa e rainha-consorte de D. João I de Portugal. É responsável por dar à luz a "Ínclita Geração" de Portugal, aquela que se lançou na epopeia dos Descobrimentos e na qual se inclui D. Henrique, o Infante Navegador. Todavia, D. Filipa morre de peste bubónica poucos dias antes da expedição para Ceuta, não presenciando aquele que foi o momento que deu início ao Império Português, o primeiro e o mais duradouro dos impérios coloniais europeus.

Regressando novamente ao contexto da restauração da independência, destaque também para outra ilustre personalidade, D. Filipa de Vilhena, símbolo do patriotismo lusitano contra o domínio espanhol. Pelas suas próprias mãos, cingiu as armas a seus filhos na madrugada do 1.º de Dezembro, dizendo-lhes que não voltassem se não honrados com os louros. A sua história foi, posteriormente, adaptada por Almeida Garrett numa peça homónima, contribuindo para a sua glorificação.

No que toca a variantes gráficas usadas ao longo dos tempos, para além de Filipe e Filipa, contam-se Filippe, Philippe, Filippo, Filipo, Felipe, Felippe e Phelippe (e equivalentes para o feminino). Hoje, em Portugal, só Filipe, Filipo e Filipa são admitidos como nomes passíveis de serem registados, pelo que só estas três grafias têm carácter oficial. Felipe é, aliás, listado como não admitido (as outras grafias não constam no documento). Ao que tudo indica, as variantes com ee eram comuns durante vários séculos, mas hoje o seu uso é quase só limitado ao Brasil, onde a inexistência de uma lista oficial de nomes permite que esta variante seja até mais registada que a versão oficial em Portugal, com ii. Também no Brasil surgem variantes como Fellipe que, apesar de criativa, carece de fundamentação etimológica. Segundo dados oficiais divulgados no blogue Nomes e mais nomes, em 2012 Filipe teve 287 registos e, Filipa, 237. Houve ainda 10 registos de Felipe e um de Philippe, apesar de não serem grafias oficiais.
Phílippos

filipe In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-09-15].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/antroponimia/filipe>.

4 comentários:

  1. Ainda que medianamente populares, lamento que ambos tenham passado a ser segundos nomes de eleição... Quanto a Filipa, sou suspeita, mas é um nome que adoro! :)

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    1. Concordo plenamente! Confesso aqui que foi a Infanta dos Nomes e mais nomes a inspiração desta publicação. Homenagem feita à primeiríssima das seguidoras. :)

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  2. Adoro o nome Filipe! Recordo Filippo Brunelleschi, arquitecto e escultor renascentista e autor da maravilhosa Basílica Santa Maria del Fiore, em Florença.

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