terça-feira, 1 de outubro de 2013

Dinis: uma análise com vinho à mistura


No início, havia um deus. Grego, mais especificamente, e de nome Dionísio ou Dioniso (imagem); originalmente, Dionysos. Crê-se que tal nome terá surgido da combinação de dois elementos, Dios e Nysa. O primeiro sempre esteve relacionado com Zeus (Júpiter, para os romanos), pai dos deuses e do Homem, soberano do Olimpo e progenitor de vários heróis. Este étimo surge como o caso genitivo de Zeus, algo que não existe propriamente na gramática portuguesa mas que existe em línguas como o finlandês, o alemão e o turco. Nysa, por sua vez, refere-se a uma montanha lendária, de localização dúbia mas associada a sítios tais como a Etiópia, a Líbia, a Arábia e a Índia. Segundo o mito, nesse local terá nascido Dionísio, o "Zeus de Nisa", o qual terá sido criado pelas Nisíades, que poderão equivaler às Híades, as ninfas da chuva. De acordo com Ferécides de Siro, nűsa seria uma palavra arcaica para "árvore", o que poderá explicar o porquê do culto de Dionísio estar muito relacionado com árvores, especialmente a figueira. Uma outra possível origem é apresentada por Rafael Bluteau:
Outros pretendem derivar Dionysio de Du, ou Dy, que significa senhor na lingua indiana. 
Dionísio cresceu para se tornar o deus do vinho, da vindima e da produção de vinho, bem como das festas, da epifania e do êxtase. Apesar de filho de Zeus, foi o único dos doze deuses do Olimpo com mãe mortal. Porém, existe outra versão que o coloca como filho de Zeus e Perséfone, filha de Deméter e comummente referida como "a deusa virgem". As datas de 25 de Dezembro e 6 de Janeiro estão associadas ao nascimento do deus, representando este período o solstício de Inverno. Para além disso, Dionísio é relatado como tendo praticado diversos milagres, como a transformação de água em vinho, ter sido aclamado pelos epítetos "Salvador" e "Filho Unigénito", bem como ter morrido e ressuscitado três dias depois, tendo posteriormente ascendido aos céus. Como seria de esperar, tal levou às mais diversas teorias comparativas com a figura central do Cristianismo. Baco constituía o seu equivalente no panteão romano, sendo famosas as bacanais, rituais em sua homenagem, originalmente restritos a mulheres mas mais tarde estendidos a homens, sendo a intoxicação por álcool um dos elementos dessa comemoração.

Em latim surgiu a versão Dionysus, de onde se formou o francês medieval Denys ou Denis, tendo depois sido importado para Inglaterra pelos normandos, onde hoje é mais usual a grafia Dennis. São Denis foi um missionário gaulês do século 3.º que converteu os gauleses ao Cristianismo, sendo hoje considerado o santo patrono de França. Denis foi ainda uma forma também comum em Portugal, assim como a variante mais recente, Dinis, e que também é usada como apelido de família. Hoje, ambas as formas gráficas constam como aceites pela onomástica portuguesa, como se pode verificar no catálogo oficial de nomes próprios do Registo Civil, assim como o feminino, Denise e, ainda, Denisa, Dione e Dionísia. Em tempos, em Portugal, também se popularizou a versão Diniz que, presentemente, à semelhança de Luiz, não constitui uma grafia oficial. Considerações adicionais sobre a terminação em -iz serão efectuadas quando se abordar Luís. 

Não se pode abordar Dinis em Portugal - e até no mundo lusófono em geral - sem se mencionar D. Dinis, sexto rei de Portugal. Pelo tratado de Alcanizes, definiu as fronteiras do país após a Reconquista, tendo ainda, entre outras coisas, criado a primeira universidade portuguesa, mais tarde transferida de Lisboa para Coimbra, e instaurado a língua portuguesa como língua oficial da corte. Foi conhecido como o Lavrador, principalmente pela sua responsabilidade na expansão do Pinhal de Leiria e, ainda, o Rei-Poeta, devido à sua obra literária, existindo cerca de 138 cantigas de sua autoria. 

Amiga, quem vos (ama)
(e por vós) é coitado
e se por vosso chama
des que foi namorado,
nom viu prazer, sei-o eu,
(e) por em já morrerá
e por aquesto m'é greu.

Aquel que coita forte
houve des aquel dia
que vos el viu, que morte
lh'é, par Santa Maria,
nunca viu prazer, nem bem,
(e) por em já morrerá
(e) a mim pesa muit'em.

Os meus sinceros parabéns a quem conseguiu perceber o poema todo. 

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